quinta-feira, 26 de maio de 2005



És (lado A)

O ruído que distorce a música da vida
A farpa que existe numa pele macia
A cor errada dum quadro pintado
Um grito que rasga o silêncio sagrado
A névoa que turva uma esbelta visão,
Na camisola tu és o cotão
O risco que estraga a pintura do carro,
Naquela noite foste o último trago,
És a nuvem que tapa o pôr-do-sol
A faísca que faz explodir o paiol
A chuva que estraga uma tarde de Verão
A gordura que suja o fogão
A doença que afasta a vitalidade
A poluição que atinge a cidade
O buraco que há na conta do banco
A perna mais curta dum sujeito manco
A corrente que castra a liberdade do cão,
Num compromisso és a traição
Aquela presença minha inimiga,
És o fantasma que me assombra a vida.



Noite

Noite é luz, som e euforia
Noite é desejo, querer, sedução
Noite é mentira, fachada, ilusão
Noite é cor, imagem, fotografia

Noite é escuro, vazio, depressão
Noite é TV, novelas, solidão
Noite é sofá, cama, sono
Noite é sonho, é rei, é trono

Noite é álcool, tabaco, mulheres
Noite é droga, é vício também
Noite é dinheiro, é esbanjar, são prazeres
Noite é a alegria triste dos que podem.

sábado, 21 de maio de 2005



Miragem

Tu não és tu,
És somente quem eu quero que sejas,
Quem desejo que me aceda.
Holograma, mera ilusão de uma mente carente
De gente demente, que anseia atenção.
Tens aquilo o que procuro
E sem o poder simulas ser quem não és,
Não mereces; queres, podes, não!

És em mim meu maior mal,
Dou-te tudo o que não tenho,
Busco e enjeito num ser imperfeito,
Quero encontrar em alguém que rejeito.
Desejo-te,
És em mim o que falta,
Incompleto, longe do teu ser
Agonio.