sábado, 17 de dezembro de 2005



Espreito

O céu, a serra, o mar.
Em comunhão a Natureza,
Fito submisso à simplicidade.
O sol, a terra, as ondas.

O céu, a serra, o mar.
A brisa vagueia, penteia
A serra queimada que aspira
Tocar mar imenso, revolto.

O céu, a serra, o mar.
As aves que migram,
Os seres que hibernam,
Os peixes não se deixam afogar.

O céu, a serra, o mar.
As nuvens que passam
Sobre pinheiros siderados
E o mar insiste dançar.

O céu, a serra, o mar.
Miro-vos com inveja
Pois sabeis vosso papel,
Conciso, bastai existir.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005



A ti

Pensas que sabes quem és
Mas não és maior…
Sois o que te deixam ser,
Dás por certo o que tens,
Enalteces o que atracas,
Abonas na estrela, vindouro.
Daqui ao céu é a distância
A que ficas do sucesso.
Acesso de raiva, angustia,
Como eu gosto de te ver assim.
Sonhos presos em torres de marfim,
Cerrados dentes susténs cobiça.
Desconheces o que sois,
Limitada ao que te destinam,
Dor.



Lembrança

O céu estrelado como um ovo, aberto.
De estrelas pintado, o ovo.
Desprezo, desprezo-te, cansas-me,
Maceras-me por existir.
Bem sei que não por querer, mas dói.
Dói demais querer-te e não poder,
Sentir-te e não te ter.
Um ovo pintado, desejo ocultado,
Um beijo aguardado, não.
Amanhã o céu volta a ser estrelado,
A casca será pó, não aceito o não.
Fode-te, fode muito, não me importa,
Carcome-te, queima-te, gasta-te,
Não mais quero saber…
Uma prenda rejeitada, sentimento no chão.
Fodas há muitas, quem te ame…
Não.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005



Sabedoria

Que sociedade esta que incita o saber,
Rejeita o sábio que soube a fazer,
Anseia o doutor que vive a aprender,
Despreza o empírico que descobre a ver.

No país em que se chora o que não se foi
E não se exalta quem tentou,
Exaltam-se os que gostavam de ter feito,
Obrigam os seus a viver o que não ousaram ser.

Que só se queixa o nosso povo,
Põe em causa quem sobressai,
O esforço é tido como sacrilégio.
Preguiçosa a inchada não quer suar.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005



Acreditas em coincidências?

Sinto que sabes que sei que sentes
A saudade subtil da ausência,
Saudade simples suada de desejo,
Sagrada a esperança de te voltar a ver.
Apenas sei de sangue salpicado
A alma vi rasgada pelo ventre,
Saboreio a dor no remanescente
Em que rareia o tempo em si consciente
Que sente o peso de ter-te
Retida no que resta do meu ser.