sábado, 3 de fevereiro de 2007



Uma poesia de delírio

Se gostas de poesia e consegues acreditar
Que o poeta é dos bons então deixa-te levar;
Lê-me os lábios, saboreia os pensamentos
Que o iluminado revela em parcos momentos.
Amarra-te às palavras e sente-lhes o pulsar,
Segura-te nos versos que insistem em rimar;
Crê no santo apóstolo e confia-lhe o teu soldo
Segue-lhe os passos ou definharás sem fôlego;
Acompanha as letras, os sons, as imagens
E habitarás as mais intrépidas viagens.

Assume que amas a arte e veneras a literatura,
Aceita que te ataque e dissolva a armadura.
Ser herói sem capa nem donzela para salvar,
Um infante sem trono nem dragão para matar;
Pois sou paladino sem espada nem escudo,
A minha palavra única arma que empunho:
Não me peças o céu se não queres que te minta,
Mantém fé no profeta que não finarás faminta.
Citando Abrunhosa, já que tem o seu nexo:
Tudo “o que eu quero é o teu corpo e o teu sexo.”

Se gostas das letras e consegues acreditar
Que a poesia vale a pena então deixa-te estar.
Fita as palavras, degusta os pensamentos
Que o escriba revela seus sacros intentos.
Ata-te às alegorias e descobrirás “A Verdade”,
Desfaz os monos que duvidam da eternidade.
Respeita o eremita, o sábio, o artista,
E capta a mestria do ser mais autista.
Cede tua alma à mais distinta criatura;
Porque nota isolada não faz uma partitura.



Sinto-te
(Para a minha mãe)

Sei que sentes o que sinto,
Sinto o que sentes por mim,
Sei que sentes amor puro,
Sinto amor visceral.
Sou grato por me amares,
É recíproco, já to disse;
Sou grato por te preocupares,
Sou grato porque existes.
Se o afecto não se quantifica,
Eu só sou grande graças a ti.

Mesmo quando ninguém se preocupa
Sei que queres saber de mim,
Mesmo que rasteje na fossa
Sei que vais gostar de mim.
Acreditas no que acredito,
Nem queres saber porquê,
Se eu decido tu apoias
Mesmo que não tenha pé.
Se ainda tenho razão para viver,
É porque tu queres que seja assim.