domingo, 18 de março de 2007

Um balançar eterno

A fragrância do suor fazia temer
O que os gemidos apenas confirmavam,
A roupa espalhada, as almas unidas,
Dois corpos nus por ali se amavam.



Louco de desejo avanço e atinjo
E rasgo-te o que te resta de roupa,
Tu já esperavas e pelo sorriso sinto
Que me prevês com destreza por gozo,
E por estar meio touca rio, dispo-me também.
Os pensamentos já não fluem
E deixo-me levar pelo devaneio
Pois só em jeito permites-me aceder-te.
E rompe-se o ar espartano do quarto
Quando a catre desfeita geme de deleite,
Os corpos colados são chapas soldadas
Que marcham a passo acelerado,
Os olhos vidrados revelam ausência
Mas na verdade reviram de júbilo,
As falas cortadas são permutadas
Por mensagens que chegam através da pele…
Os dedos enredados apertam-se,
Miro-te desnuda ao luar,
Sem cigarro para acender olhas-me gulosa
Como quem ficou por saciar,
Falo-te e respondes-me com mais um beijo
E um minuto chega para ir ao paiol.
Sem farda regresso à arena silvestre,
A essa luta acesa qual tocha olímpica,
Espevitam-se as almas e suamos sem fim
Numa oscilação que espero nunca mais finar.



No fio da navalha

Amar e chorar a morte,
Que dualismo pertinente,
Mas que pelo alto porte
Já terei algo em mente.

Se um dia me julgar forte
E ansiar encontro ardente,
Se não encontrar o Norte
O destino que me tente…

Jogar e atirar à sorte,
Que método deprimente,
Numa estocada torpe
Finarei no dia assente.

E o jornal que reporte
Este infeliz incidente.
A lembrança num recorte
Fica meu passado assente.

Não exista quem entorte
A vera história vigente,
Haja ser que me conforte
Nesta viagem decadente.

sábado, 3 de março de 2007



Quando os anjos merecem morrer

Choro quando os anjos merecem morrer,
Eu sofro quando o tenho de fazer,
Vacilo e hesito em faze-los perder,
Porque não quero ver anjos morrer.

Perguntas porque têm de ceder,
É raro mas temos de escolher;
Há anjos que deviam de ter
Um dos sexos para se entreter.

Quando os anjos têm de partir
É porque erraram e merecem ir.
Contesto mas não se posso impedir
Fecho os olhos e deixo-os seguir.



Desamparado frio

Sinto tanto frio quando me largas só,
Sinto-me tão vazio quando tu me deixas.
O sol não me aquece quando tu não estás
E as estrelas caiem quando tu te afastas.

Deito-me acordado e espero que me chames,
Sonho-te a meu lado e quero que me toques.
Acordo suado e deslizo a mão pela cama
E choro sentado ao sentir o leito vazio.

Lembraste de mim quando te vais deitar?
Também sofres assim ou já não queres voltar?
Eu já disse o que sentia e que quero mudar,
Explica-me o que fiz que prometo tentar.

O que se passou, o que nos aconteceu?
Foi quando se tornou sério que o caso cedeu.
Que fuga foi esta ou será acto de coragem?
Mais vale não apareceres se não queres seguir viagem.

Serás boa demais ou não me mereces a mim?
Pois já começo a gostar de não te ter aqui.
O sol não me aquece quando tu não estás,
Mas parece que vou ter que me habituar…



Tento manter-me vivo… e tu?

Vem comigo, dá-me a tua mão,
Enreda-me nessa tua teia de seda,
E se tivermos de dormir no chão,
Embalas-me nos teus seios de princesa.

Tu sabes que eu só penso em ti,
Tu dizes que só sonhas comigo,
Eu sei que não é bem assim,
Eu sinto que não estou sozinho.

Se prometo que nunca nos vamos separar,
Dissimulas e mentes por me amar…
Mas conheces a verdade, o preço das palavras,
És ciente do futuro, do caminho que lavras.

Os dias passam lestos e retorna o rito,
Regressa a normalidade, ao que fora escrito.
Ocupando os dias vou saindo da escuridão,
Não sei como vives, se estás bem ou não.

És só mais uma mulher
De quem calhou ser amante.
Fui só mais um prazer… e tu?
Não és mais que uma menina…