quarta-feira, 18 de julho de 2007



A gosto

Gosto da solidão que me estimula,
Gosto do silêncio que me deixa fluir,
Gosto do receio que me faz pensar,
Gosto de quem gosta de me amar.

Gosto de gostar, do cheirar, e de sentir.
Gosto dos medos e amargos,
Gosto dos dedos e dos amassos,
Gosto de ti e de mim e do “nós”.

Gosto de ter e do poder,
Gosto do ver e do desejo.
Gosto de ler e de prever,
Gosto do argumento e do traquejo.

Gosto da dúvida, da surpresa e do laço.
Gosto do sol, da lua e do espaço.
Gosto do céu e dos pecados,
Gosto do risco e dos fracassos.

Gosto da audácia e da bravura,
Gosto do respeito e da loucura.
Gosto de não ter asas e voar.
Gosto da vida, gosto de mim.



A ceifa do destino

Vislumbrei a morte num sonho
Quando a vi com uma faca na mão,
Na outra apertava com força
O que restava do meu coração.

Olhei a morte nos olhos
E escapou-se-me uma lágrima.
“Não me leves” roguei-lhe
Com os olhos marejados em medo.

“Perdoa as ofensas que gritei,
Castiga-me pelos pecados de que gozo,
Culpa-me dos seres que humilhei
Mas liberta este peso que me sufoca.”

Ajoelhei-me e cedi quando a vi
Passar por mim indiferente,
Ri-me demente quando a fitei
Empunhar a ceifa do destino.

“Leva os meus fantasmas”
Gritei ao vento, engolindo o fumo
Que deixara como sinal de presença.
E incólume me largou, arrependido.